As gotas de chuva confundiam-se com as lágrimas. Tirei os sapatos. Sentir o alcatrão na sola dos pés confortava-me, não sei porquê. Estava encharcada e triste ali no meio daquela escuridão. De repente vindo na minha direcção, avistei a luz dos faróis de um carro. Ele aproximou-se depressa. Quando o condutor me viu, travou a fundo, fazendo com que os pneus chiassem. Olhei arregalada para o carro e encadeada pelas luzes. O condutor saiu do carro e avançou até mim na escuridão.
- Ashley???
- Matt??? - eu admirei-me.
- O que é que se passa??? Estás bem??? - Matt perguntou preocupado.
- Eu...eu errei...e ele nunca mais quer me ver... - eu chorava compulsivamente.
- O quê??? Fala comigo!!! - Matt pegou nas minhas mãos.
Eu apenas inclinei-me para ele e abracei-me a ele. Ele apertou-me e por momentos senti-me protegida e segura.
- O que é que fizeste, Ashley??? - Matt inquiriu confuso.
- Eu...eu contei ao meu namorado, que te tinha...beijado...Desculpa... - eu implorei.
- Ok...apenas foste honesta. Mas, mesmo assim estou confuso. Porque é que estás aqui sozinha na estrada e à chuva???
- Porque ele acabou comigo. E eu fui para a casa de uma amiga e agora apenas queria...queria voltar...para casa...Por favor, leva-me contigo... - eu pedi desesperada.
- Sim, claro eu levo-te!!!
Matt encaminhou-me para o carro. Eu estava com frio. Matt reparara nisso e disse logo.
- Veste o meu casaco!!! Toma. Estás melhor???
- Sim, obrigada...Matt, olha eu quero-te pedir desculpa...tu não mereces isto... - eu toquei na sua mão gélida.
Ele olhou para mim e sorriu.
- Sabes, que eu fazia tudo por ti, não sabes???
As lágrimas escorreram de novo no meu rosto. Chegámos à minha casa.
Eu saí do carro de Matt mas antes falei:
- Obrigada por tudo!!! És uma pessoa fantástica e tens um coração. Não te deixes levar pelo que a mente diz, apenas pelo que o coração diz.
- De nada!!! Eu sei...
Entrei em casa. Mamãe veio a correr. Abraçou-me e eu desatei a chorar.
- Oh meu amor...Pronto já passou...
- Mãe...ele...acabou tudo... - as lágrimas corriam descontroladamente.
- Oh minha flor!!! Ele vai entender...Mas por favor pára de chorar...Eu estou aqui... - mamãe afligiu-se.
Nessie desceu as escadas e quando me viu assim veio confortar-me. Todos foram maravilhosos comigo, mas aquela parte de mim desaparecera. Foi como me arrancassem o coração. Tudo tão frio e duro de pensar...
Fui para o quarto. Fartei-me de enviar sms, telefonar e deixar mensagens no voicemail mas nada...apenas desprezo. Abri a gaveta da mesa de cabeceira e tirei uma foto, onde eu e Ryan estávamos na praia, felizes e apaixonados. Olhei-a, cheia de raiva de mim mesma. Levantei-me, deixei cair a foto no chão e dirigi-me ao espelho do toucador. Vislumbrei o meu péssimo estado e sem pensar muito, cerro o punho e parto o espelho, brutalmente. Doeu mas aliviou a dor psicológica. Os estilhaços do espelho cortaram-me a mão e o pulso, mas mesmo assim senti-me meio que "feliz", se é assim que se pode descrever!!!
Ninguém ouviu, nem mesmo tia Alice teve uma premonição. Passar muito tempo com Matt quebrou a forma de prever as situações da tia Alice. É como se o escudo, a pouco e pouco, se tenha alargado para mim também, barrando qualquer entrada na minha mente...
Deitei-me no chão afastando alguns estilhaços do espelho. Deixei que a tristeza tomasse conta de mim. Quase que me sugasse até à morte...apenas até à morte. Estraguei tudo e não podia remediar. Ryan detestava-me e nunca mais queria saber de mim...
Fechei os olhos e deixei que o cérebro me guiasse pelas memórias que quisesse. Lembrei-me do dia em que fugi do infantário, da floresta escura, da mamãe me levando para casa, das brincadeiras com os meus pais biológicos, do reencontro com Stephanie, etc... Estava tudo baralhado...Mas no meio dessas memórias todas lembrei-me de uma pessoa, que já não via há muito. George, o meu melhor amigo no infantário. Éramos crianças de 5 anos mas já pensávamos como adultos. Um dia, enquanto brincávamos no recreio da creche ele virou-se para mim dizendo:
- Ashley, queres casar comigo??? Se aceitares podemos brincar aos "papás e às mamãs" sempre que quiseres!!!
Eu inocente e brincalhona respondi:
- Não quero casar contigo, porque és o meu melhor amigo. Mas posso dar-te um beijinho. E mesmo assim, vais brincar comigo às "mamãs e aos papás"!!!
Depois dei-lhe um beijinho na bochecha, demos as mãos e corremos pelo recinto do recreio, juntos...
Acabando aqui a linha de raciocínio perguntei a mim mesma: o que seria feito de George. Tinha de procurá-lo. Queria falar com ele. Queria reaver a nossa inocente amizade e consolidá-la, numa para a vida.
Mas, sim, esta, de certeza não era a melhor altura para procurar alguém, quanto mais fazer amizades...
Adormeci ali no chão duro, tal o tamanho buraco que sentia no peito...
Acordei de manhã, cedo. Admirei-me pois estava na minha cama, tinha a mão e pulso, tratados e o espelho estava como novo...Estranho...E ainda por cima a janela e porta estavam trancadas, exactamente como as deixei na noite anterior...Ok, medo!!!
Na minha mesa de cabeceira um papel de aparência cara, tinha escrito, com uma letra bem elaborada:
"Apenas aceitar e erguer a cabeça..."
- Ass:"Tu sabes bem quem sou eu..."
Paralisei ao ler aquilo. Alguém esteve no meu quarto. Não sei se essa pessoa me queria mal ou bem...Dobrei o papel e enfiei-o numa das gavetas. Levantei-me da cama, fui à casa de banho fazer a minha higiene. Retirei com cuidado as ligaduras à volta da mão e do pulso. Para meu espanto, estava tudo curado...Nada de sangue, nem de feridas, nem de nódoas negras...Vesti uma roupa de andar por casa e desci as escadas até à cozinha. Vovó falou um pouco comigo. Perguntou se eu estava bem, que isto iria passar, etc... Ainda me apresentou também o pequeno-almoço mas eu recusei. Estava sem apetite e só me apetecia dormir... Vovó ainda insistiu mas não valeu a pena...
Passou-se o dia inteiro assim, sem iniciativa alguma...para nada mesmo.
Se calhar aquilo do bilhete estava correto: Eu precisava de apenas aceitar e erguer a cabeça.
Ao final da tarde, a campainha tocou. Eu fui abrir a porta.
- Boa tarde. É a menina Ashley Cullen??? - o carteiro perguntou.
- Sim, sou eu. Porquê???
- Tenho uma encomenda para si. Basta assinar aqui. - ele apontou para um papel tipo formulário. - Ok, tenha uma boa tarde!!!
- Obrigada. - A minha voz foi quase abaixo, enquanto fechava novamente a porta e observava a encomenda misteriosa, sem remetente.
Abri o pacote dos correios e tirei de lá, uma caixa de veludo vermelho, enrolada num laço dourado brilhante. Abri a exuberante caixa e vi um colar muito elegante:
Colado a uma das partes da caixa, um envelope preto, tinha o meu nome inscrito nele. Descolei-o e abri-o. Retirei de lá uma carta, de papel igualmente caro. Comecei a lê-la e foi como se tivesse caído o Carmo e a Trindade naquela casa...Quase morri...
Continua...
Ashley Mary Hale Cullen
Banda Sonora deste post: "James Arthur - Impossible"; http://www.youtube.com/watch?v=lJqbaGloVxg
- Mãe...ele...acabou tudo... - as lágrimas corriam descontroladamente.
- Oh minha flor!!! Ele vai entender...Mas por favor pára de chorar...Eu estou aqui... - mamãe afligiu-se.
Nessie desceu as escadas e quando me viu assim veio confortar-me. Todos foram maravilhosos comigo, mas aquela parte de mim desaparecera. Foi como me arrancassem o coração. Tudo tão frio e duro de pensar...
Fui para o quarto. Fartei-me de enviar sms, telefonar e deixar mensagens no voicemail mas nada...apenas desprezo. Abri a gaveta da mesa de cabeceira e tirei uma foto, onde eu e Ryan estávamos na praia, felizes e apaixonados. Olhei-a, cheia de raiva de mim mesma. Levantei-me, deixei cair a foto no chão e dirigi-me ao espelho do toucador. Vislumbrei o meu péssimo estado e sem pensar muito, cerro o punho e parto o espelho, brutalmente. Doeu mas aliviou a dor psicológica. Os estilhaços do espelho cortaram-me a mão e o pulso, mas mesmo assim senti-me meio que "feliz", se é assim que se pode descrever!!!
Ninguém ouviu, nem mesmo tia Alice teve uma premonição. Passar muito tempo com Matt quebrou a forma de prever as situações da tia Alice. É como se o escudo, a pouco e pouco, se tenha alargado para mim também, barrando qualquer entrada na minha mente...
Deitei-me no chão afastando alguns estilhaços do espelho. Deixei que a tristeza tomasse conta de mim. Quase que me sugasse até à morte...apenas até à morte. Estraguei tudo e não podia remediar. Ryan detestava-me e nunca mais queria saber de mim...
Fechei os olhos e deixei que o cérebro me guiasse pelas memórias que quisesse. Lembrei-me do dia em que fugi do infantário, da floresta escura, da mamãe me levando para casa, das brincadeiras com os meus pais biológicos, do reencontro com Stephanie, etc... Estava tudo baralhado...Mas no meio dessas memórias todas lembrei-me de uma pessoa, que já não via há muito. George, o meu melhor amigo no infantário. Éramos crianças de 5 anos mas já pensávamos como adultos. Um dia, enquanto brincávamos no recreio da creche ele virou-se para mim dizendo:
- Ashley, queres casar comigo??? Se aceitares podemos brincar aos "papás e às mamãs" sempre que quiseres!!!
Eu inocente e brincalhona respondi:
- Não quero casar contigo, porque és o meu melhor amigo. Mas posso dar-te um beijinho. E mesmo assim, vais brincar comigo às "mamãs e aos papás"!!!
Depois dei-lhe um beijinho na bochecha, demos as mãos e corremos pelo recinto do recreio, juntos...
Acabando aqui a linha de raciocínio perguntei a mim mesma: o que seria feito de George. Tinha de procurá-lo. Queria falar com ele. Queria reaver a nossa inocente amizade e consolidá-la, numa para a vida.
Mas, sim, esta, de certeza não era a melhor altura para procurar alguém, quanto mais fazer amizades...
Adormeci ali no chão duro, tal o tamanho buraco que sentia no peito...
Acordei de manhã, cedo. Admirei-me pois estava na minha cama, tinha a mão e pulso, tratados e o espelho estava como novo...Estranho...E ainda por cima a janela e porta estavam trancadas, exactamente como as deixei na noite anterior...Ok, medo!!!
Na minha mesa de cabeceira um papel de aparência cara, tinha escrito, com uma letra bem elaborada:
"Apenas aceitar e erguer a cabeça..."
- Ass:"Tu sabes bem quem sou eu..."
Paralisei ao ler aquilo. Alguém esteve no meu quarto. Não sei se essa pessoa me queria mal ou bem...Dobrei o papel e enfiei-o numa das gavetas. Levantei-me da cama, fui à casa de banho fazer a minha higiene. Retirei com cuidado as ligaduras à volta da mão e do pulso. Para meu espanto, estava tudo curado...Nada de sangue, nem de feridas, nem de nódoas negras...Vesti uma roupa de andar por casa e desci as escadas até à cozinha. Vovó falou um pouco comigo. Perguntou se eu estava bem, que isto iria passar, etc... Ainda me apresentou também o pequeno-almoço mas eu recusei. Estava sem apetite e só me apetecia dormir... Vovó ainda insistiu mas não valeu a pena...
Passou-se o dia inteiro assim, sem iniciativa alguma...para nada mesmo.
Se calhar aquilo do bilhete estava correto: Eu precisava de apenas aceitar e erguer a cabeça.
Ao final da tarde, a campainha tocou. Eu fui abrir a porta.
- Boa tarde. É a menina Ashley Cullen??? - o carteiro perguntou.
- Sim, sou eu. Porquê???
- Tenho uma encomenda para si. Basta assinar aqui. - ele apontou para um papel tipo formulário. - Ok, tenha uma boa tarde!!!
- Obrigada. - A minha voz foi quase abaixo, enquanto fechava novamente a porta e observava a encomenda misteriosa, sem remetente.
Abri o pacote dos correios e tirei de lá, uma caixa de veludo vermelho, enrolada num laço dourado brilhante. Abri a exuberante caixa e vi um colar muito elegante:
Colado a uma das partes da caixa, um envelope preto, tinha o meu nome inscrito nele. Descolei-o e abri-o. Retirei de lá uma carta, de papel igualmente caro. Comecei a lê-la e foi como se tivesse caído o Carmo e a Trindade naquela casa...Quase morri...
Continua...
Ashley Mary Hale Cullen
Banda Sonora deste post: "James Arthur - Impossible"; http://www.youtube.com/watch?v=lJqbaGloVxg